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Este Blog tem por finalidade estabelecer um contato com grandes amigos e pessoas importantes para mim. Nele Postarei um pouco de mim, do meu pensar, dos momentos que ficaram marcados em minha vida e também um pouco do que gosto,textos que acho interessante, paisagens! Encontrei aqui, neste espaço, uma maneira bem legal pra fazer isto e conto com ajuda de vocês para construí-lo. Um Grande Abraço a todos!

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

A LAVAGEM DO BONFIM E A LAVAGEM DA ALMA


"A água me contou muitos segredos

Guardou os meus segredos
Refez os meus desenhos
Trouxe e levou meus medos"





Todos os caminhos neste dia em Salvador-BA levam ao Bonfim. É hoje a famosa lavagem do Bonfim com o cortejo que se segue pelas ruas da cidade baixa até a famosa Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, padroeiro mor do estado junto com Nossa Senhora da Conceição (da Praia). 

A festa surge num contexto histórico de segregação e opressão. Os negros não podiam entrar na Igreja dos brancos (e ricos) senão para limpá-la e deixando-a perfumada para seus senhores que rezarão na missa posteriormente. Segundo me contaram aqui em Salvador, às vésperas da festa do padroeiro os negros se reuniam à mando de seus senhores (não por vontade própria) para a limpeza da Igreja. Por estarem longe dos olhos dos seus senhores, que achavam estar acontecendo ali mera limpeza, os negros escravizados se alegravam cantando canções em Iorubá

Neste ambiente o Sagrado se manifestava, dando alento ao seu povo por meio da presença das divindades africanas conhecidas como orixás. Entre elas, uma era considerada a mais suprema: Oxalá. O senhor que é todo misericordioso, amoroso e que dá a paz.Que possui ainda uma paternidade envolta de compassividade e sabedoria. Tal como era o homem divinizado exposto num madeiro adornado com pedrarias e metais nobres no altar principal da Igreja: o Senhor do Bonfim. É neste exato momento que Jesus e Oxalá dão as mãos e passam a ser uma única coisa. 

A cor branca, liturgicamente usada nas festas do Senhor Jesus é a mesma das tribos africanas que reverenciam os deuses funfun (que usam pano branco) como Oxalá e Oxaguiã (Oxalá moço). Assim não há mal aos olhos da igreja opressora os negros portarem vestes brancas. E o tempo passou... e este costume de botar roupa branca para ir ao Bonfim está até hoje entre adeptos do candomblé e cristãos devotos sendo difícil saber se é para reverenciar um ou outro. Houve pois o momento de maior opressão que por um tempo quis bloquear a entrada total dos negros na Igreja. A mesma que anteriormente foi construída e lavada por eles para a festa dos brancos. Fizeram grades, chamaram a policia, excomungaram... 

Assim restaram a escadarias como memória do costume antigo adquirido no contexto da escravidão. Há quem pense que se trate de uma escadaria longa e exaustiva... mas são apenas alguns degraus. O ato de lavar, hoje, transcendeu a limpeza do espaço físico. Hoje "o lavar os degraus" diz de uma ação necessária à alma. Diz de lavar as nossas "moradas interiores" afirmadas existentes pela mística neoplatonica cristã. É se limpar de todo o egoísmo, preconceito, intolerância, tristeza e toda sorte de más ações. É fazer alguma ação que limpe verdadeiramente o coração deixando-o puro para acolher o Divino. Isso independe da escolha de uma divindade "Jesus ou Oxalá". Ambas testemunham o amor misericordioso do Ser Supremo que nos criou. É claro que cada qual ao seu modo e à sua cultura conforme suas teologias. 

Neste dia da "lavagem do Bonfim" o Cristo e Oxalá dão as mãos e seguram juntos o grande alá (pano branco) da paz, que é, capaz de cobrir todos os seus filhos e filhas sem distinção de cor, gênero, orientação sexual e crença. 



Por fim, lavar a alma e estar em paz é o compromisso de todos que hoje afirmam ter fé para ir a pé à Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, coração religioso da Bahia.

Thiago Felipe