"O
vos omnes qui transitis per viam, attendite et videte:
Si
est dolor similis sicut dolor meus."
Prosseguindo ainda no tempo cristão da quaresma
adentramos na semana das dores onde se rememora a dores sentidas pela Virgem
Maria relacionando-as com acontecimentos da historia salvífica do Filho Dela.
As dores de Maria atestam no entanto a humanidade e sentimento de uma mãe que
também goza de alegrias em vida e gozará ainda no pós-vida. As sete dores
sentidas, começam com a profecia do velho Simeão em que uma espada de dor lhe
transpassará a alma. É como se Maria sentisse aqui uma profunda angustia existencial...
que lhe gera dor.
Em seguida lhe é de muito sofrer a fuga para o Egito.
Deixar sua pátria e se adentrar numa outra cultura é algo que provoca muito
sofrer. Somente quem já passou por isso saberá entender esta dor de Nossa
Senhora. Os escravos africanos saindo de sua terra natal para o Brasil chegavam
a morrer de "banzo" , ou seja, saudades atrelada a um sentimento de
estranhamento da realidade que gerava uma não adaptação nestas terras
estrangeiras. Quem vive no exterior por mais que "tenha se dado bem na vida"
chora internamente por estar longe do lugar onde seu umbigo foi
enterrado.
A terceira dor de Maria se deu com a perda do menino
no templo. Quem tem criança, filho ou alguém que ama muito, sabe que não existe
coisa que mais angustia do que a falta de saber como estão estes que por um
momento, dias ou anos se perdem longe de nós. Maria experienciou isso por pouco
tempo, mas com profunda angústia e dor. Imaginem a mãe que "perdeu" o
filho durante as ditaduras como a do Brasil e da Argentina. Não sabem com certeza
se morreram ou não fazem a mínima ideia de onde estes estão. Algumas se
consolam assentindo a morte do ente querido. Outras nutrem uma angústia mista
com indignação e esperança que maltrata perpetuamente seu coração. No seio da
America Latina existem várias mães latinas que ainda hoje clamam por seus
filhos perdidos. Em todo o continente existe a voz de uma mãe que ainda não foi
atendida. Uma voz de dor, às vezes rouca. Mas incessante.
A quarta dor é o encontro com Jesus no caminho do
calvário. A mãe que encontra seu filho em situação de dor. As mais diversas
marias sofrem por encontrar seus filhos em situação de dor. Mães que encontram
filhos na cadeia, mães que encontram filhos em escolas precárias, sem saúde, no
tráfico e em qualquer outra situação em que a vida do filho é posta próxima à
situação de morte ou dor. Mãe não quer ver filho sofrer e sofre por vê-lhe
sofrer.
A aumentar todo este sofrimento está toda a
incapacidade física gerada por fatores externos que impossibilitam a mãe de
agir. É portanto a dor gerada pela incapacidade. E por isso fere
profundamente e faz sangrar o coração. Esta é quinta dor de Maria: estar aos
pés do calvário. São aquelas situações de dor em que não se pode fazer nada
além de se estar presente, porém imóvel. Talvez esta seja uma das piores dores
de uma mãe: a incapacidade. Se pudessem, várias mães e tambem Maria, se
ofereceriam como vitima no lugar do filho, pois mãe tem coragem e amor para
isso. Mesmo assim com toda incapacidade, imobilidade e falta de esperanças aos
pés desta "cruz" stabat mater...dolorosa.
A sexta dor é a consumação do ato da morte do Filho.
Quando lhe é atirado o aguilhão que lhe tira a vida e as chances de voltar a
viver. É a dor da morte consumada. A maior dor que uma mãe pode ter. Esta é a
dor não só do hoje, não apenas nesta semana, mas que em todas as semanas
milhares de mães enfrentam. É a dor de 12 mães que tiveram seus filhos mortos
numa chacina em um bairro de classe baixa. É a dor daquela que vê o filho morto
na fila de espera dos hospitais em busca de uma oportunidade para uma cirurgia.
É a dor de ver o filho morto por extremistas. É a dor de perder para sempre o
filho. Porém, não é simplesmente a dor de perder o filho. Mas, de perder o
filho numa situação de extrema violência. Onde a maldade humana comanda o ato e
é carrasco da consumação de sua prole.
Por fim, a sétima dor é o enterro do filho. É a dor de
pôr no seio da terra aquele que saiu de seu seio. É o momento onde se irrompem
as lembranças desde a gestação, crescimento e o sofrimento presente. É a dor do
peito que já muito soluçara e do vazio que se instaura no ser de uma mãe. É a
dor que se prolonga até o ultimo dia de existência daquela Mãe... Portanto,
são sete as dores de Maria. Não que ela tivesse só estas. O 7 é o numero que
abrange o incontável por isso é simbólico dizer de "Sete dores de
Maria". Mas estas sete, sem dúvida alguma, foram as maiores, pois, lhe
puseram na situação limítrofe da existência humana. São sete os dias e as
dores da semana. Todo o dia alguém sofre e incontáveis são os sofrimentos. Todo
dia várias marias sofrem e perdem seu sono por causa de seus filhos e filhas.
Ser humano é sofrer, chorar, se angustiar... Maria teve sete dores sim. Mas
também teve sete alegrias. A maior delas acontecerá em breve, onde toda a vida
se restaurará e imperará de forma plena. Esta alegria virá irradiando de
esperança e vida todo o ser de quem sofreu. E aí poderemos dizer a esta mulher
forte que foi Maria: Regina
caeli, laetare, Alleluia!!!
Thiago Felipe L. Mata
***Fotos retiradas da Internet