Olá Galera! Amigos,conhecidos e futuros amigos!
Este Blog tem por finalidade estabelecer um contato com grandes amigos e pessoas importantes para mim. Nele Postarei um pouco de mim, do meu pensar, dos momentos que ficaram marcados em minha vida e também um pouco do que gosto,textos que acho interessante, paisagens! Encontrei aqui, neste espaço, uma maneira bem legal pra fazer isto e conto com ajuda de vocês para construí-lo. Um Grande Abraço a todos!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Seguindo a Estrela de Belém pelo Sertão: o Reisado de Feira de Santana

 Para os “de Casa” e os “ de fora”
“Em nome dos Santos Reis e do Santo Filho de Maria!!!”



A cultura nordestina sempre surpreende com um espetáculo de sons , cores e sentidos. Na posição de “abiã”[1] da cultura baiana, disposto a iniciar-me nos mistérios sagrados do povo, quero dizer de um festejo de Reis ocorrido no interior da Bahia na cidade de Feira de Santana.
A tradição da festa de Reis é essencialmente católica e mui antiga. A devoção aos Santos Reis surge nos primórdios da Cristandade abrilhantando ainda mais os festejos natalinos onde o “Sol”[2] que nasce do alto nos visitou graças a misericórdia de nosso Deus conforme a oração de Zacarias. Segundo o Evangelho de Mateus e tradição da Igreja, três reis guiados por uma estrela e por sabedoria divina chegaram à casa do Menino Jesus oferecendo-lhe presentes de ouro, mirra e incenso. Segundo a tradição possuíam o nome de Gaspar, Melchior e Baltazar sendo este último de tez escura.  
A liturgia da Igreja marca o dia seis de Janeiro para os festejos dos Santos Reis. No Brasil geralmente é atribuído o domingo seqüente a esta data para a celebração dos Reis Magos nas Igrejas com titulo de festa da Epifania do Senhor. Para comemorar a data acontecem além das celebrações solenes pela Igreja, as folias e os reisados do povo. Em Minas Gerais, geralmente se chama Folia de Santos Reis na Bahia há as variações de Terno, Terno de Reis e Reisado. Estas manifestações se dão em âmbito popular sob influência africana, atestada, sobretudo pelas danças e instrumentos musicais utilizados. A linguagem simples usada nas cantigas e orações caracteriza a identidade do reisado como algo realmente popular, de gente humilde e de muita fé. Possivelmente foram os escravos que engendraram estes festejos populares tal como podem ser vistos até hoje. Toda folia, música, dança e cores é empregado no festejo sempre sinalizando a alegria de ter entre nós o “Emanuel”.
O grupo do reisado se reúne num ponto estratégico, e, peregrina por algumas casas da região com seus cânticos e danças típicos fazendo memória à visita dos Santos Reis. São realizadas cantigas para que a dona ou dono da casa abra a porta para acolher o reisado. Aberto o portão da casa forma-se um delicioso clima de descontração com muita alegria, música e dança. Há ali alguma merenda para os visitantes, pois em geral nos festejos de origem africana se alimenta o espírito e o corpo. O alimento é que dá a energia para a dança, cria o ambiente de confraternização e partilha. Na saída é solicitado que se pague aos Santos Reis. Pagar o “Santo Reis” é a maneira efetiva de contribuir para o festejo, demonstração de contentamento e gratidão. Aqui são respeitadas as condições de cada família e cada um dá aquilo que pode.

Como os Reis Magos reconheceram em Belém o Sagrado manifestado na humanidade de uma criança com seus santos pais, o reisado de alguma forma reconhece e adora o Sagrado em cada família que visita. O reisado re-visita e exalta a vida em cada família que entra. Por isso é preciso haver festa e tudo que denote vida como cores alegres, sons e comidas. Cada participante faz uso de seu direito cristão de “Rei e Sacerdote” [3] para visitar e reconhecer, tal como os Santos Reis, o Sagrado revelado no âmago de cada residência que os acolhe. Este Sagrado é o Outro que no momento do reisado é destituído de sua secularidade para tornar-se divinamente participante da Epifania do Menino Deus. A Dona da casa assim como Nossa Senhora é o elemento feminino que zela pelo conforto dos visitantes com singular afeição. O Pai ou Irmão mais velho é por analogia São José que vigilantemente zela pelo lugar e ajuda no serviço a quem chega. Os demais da casa  são convivas do Menino Deus igualmente divinos. Assim é recordado o acontecimento da visita dos Reis à Criança de Belém sob o signo da alegria e da esperança, pois “um menino nasceu, o mundo tornou a começar!” [4]. Acredito ser esta a mensagem do reisado: reconhecer e visitar o Sagrado no Humano. Tudo isso feito com muita alegria, esperança, fé e confiança na Boa Nova trazida pelo Menino.
Que esta tradição perdure por muitos anos nas ruas do Bairro dos Eucaliptos em Feira de Santana. Pois é aí que reside a força de um povo.


Viva meus Santos Reis!!!Viva meus Santos Reis!!!
Viva meus Santos Reis!!!
 Coroado! Viva meus Santos Reis!!!




Thiago Felipe L. Mata



[1] Termo iorubá para dizer de aprendiz.
[2] Cf. Lc1, 67-79
[3] Cf. Ap 1,6
[4] Guimarães Rosa – Grande Sertão Veredas

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Filme Dom Quixote (1957), de Grigori Kozintsev





Dom Quixote (1957), de Grigori Kozintsev , retrata a célebre história homônima escrita por  Miguel Cervantes publicada em 1605. Trata-se de um romance que narra a história de um fidalgo que após ler inúmeros livros de cavalaria é acometido de um surto de loucura onde assume o papel de um cavaleiro tipicamente medieval não existente mais em seu tempo.
Dom Quixote então, ao incorporar os moldes e costumes dos cavaleiros medievais veste a armadura que pertenceu ao seu avô e parte pela Espanha a ajudar os fracos e oprimidos sempre a busca de Dulcinéia sua donzela querida. Em sua jornada toma Sancho Pança como fiel escudeiro e amigo. Saem juntos cometendo diversos equívocos pensando sempre ajudar os fracos e oprimidos. Assim libertam criminosos pensando que estão libertando escravos e acabam atrapalhando ao pensar que estão a ajudar as pessoas.
Em um dado momento são enganados por uma nobre cortesã e entra em uma dissimulação sem saber. É reportado a um reino onde é enganado o tempo todo. Quando a farsa é desfeita lhe é revelado que: “ É uma brincadeira como tudo neste mundo.Ser virtuoso é ridículo, o amor e a fidelidade são puras invenções da imaginação fértil.”
Saindo dali se encontra com Sancho e se deparam numa região de moinhos onde travam a famosa batalha descrita na obra de Cervantes se arrebentando todo ao chão. Em seguidas, Dom Quixote é vencido por um servo seu disfarçado de cavaleiro que o obriga a voltar para a casa.
O Filme é repleto de simbolismos que muito importam nos estudos da melancolia. A figura esguia de Dom Quixote é o arquétipo do melancólico por excelência. De forma pálida e seca são atestadas nele as características físicas influenciadas por Saturno/Chronos na pessoa que sofre a predominância da bile negra segundo os gregos antigos. A armadura de Dom Quixote representa o saudosismo de um passado... uma saudade de algo que conheceu. O Escudo traz um coração representando o amor (Eros) e o desejo ardente que lhe move: a procura pelo Absoluto representado na amada Dulcineia. A lança pode significar o aguilhão do Absoluto que nos fere e nos impregna com suas marcas, tal como o dardo que ferira o coração da mística Teresa de Avila inflamando-a toda em desejo por este. Pode ainda cumprir a função de “axis mundis” descrita por Mircea Eliade apontando simbolicamente a direção a ser seguida: o alto como simbologia da morada do sagrado.
A figura de Quixote como andarilho e louco faz uma correlação com a figura do melancólico na renascença: um andarilho acompanhado por um cão fiel que pode ser entendido como Sancho por analogia. Não coincidentemente recebe o epigrafo de “cavaleiro da triste figura” associando a tristeza e apatia como características dos melancólicos. O filme se passa num cenário de deserto. O deserto é por excelência o lugar do melancólico, pois remete á existência humana nua e crua.  Deserto é também lugar simbólico das hierofanias pois há aqui o simbolismo do “não lugar” morada predileta do Sagrado.


Em suas batalhas, seu pior inimigo é Fresno visto como o moinho de ventos. O moinho é tempo. Tempo é o grande adversário do melancólico na sua jornada e espera pelo Absoluto. Ao atacar o moinho, Quixote gira com as hélices deixando transparecer quão forte é o tempo sobre a existência humana não alcançando êxito na sua batalha.
A corte representa toda a sociedade moderna desconstituída de valores. É a sociedade que relativiza e cai no vazio provocado pela “morte” de Deus. É contraposta com a família de Quixote que permanece junto a natureza e aos costumes tradicionais, que mesmo ante a loucura do amo respeita o Sagrado do outro.



Dulcineia por sua vez, se manifesta no final do filme na tentativa de reanimar o cavaleiro da triste figura. Ela pode ser entendida como o sagrado que se desvela ao místico/melancólico usando a natureza (vento que entra pela janela) alimentando ainda que por curto tempo seus anseios sendo capaz de preencher todo o seu vazio. Não satisfeito, após esta cena é mostrado Dom Quixote novamente à busca pelo deserto tal como se concebe o melancólico: alguém que foi marcado pelo Sagrado e que não descansará enquanto não o encontrar em plenitude.

                                                                                                                        Thiago da Mata



quinta-feira, 21 de maio de 2015

SANTA RITA: UMA ROSA NO CANTEIRO ÁLGIDO DO MUNDO


É a vez de falar de Santa Rita de Cássia. Para mim é a maior sofredora entre as mulheres da cristandade onde qualquer testemunha de martírio é algo mínimo perto das penas sofridas por Rita. Isto porque Rita foi ao fundo do poço da existência humana donde dificilmente se consegue sair. Bem, digo estas coisas a partir do meu ponto de vista...das minhas reflexões.
Ela nasceu em plena a Idade Média no ano de 1381. Conforme o seu tempo era comum a educação á forja para ser a típica mulher do lar. Isto é: a mãe de família responsável pela comida da casa, cuidar dos filhos, cozer, zelar pelo ordenamento das coisas e ‘servir’ ao marido quando requisitada. Era uma moça profundamente inclinada à vida monástica. Cogitara até ser uma monja agostiniana. No entanto, obedecera a vontade do pai. Não podia lhe contrariar. Mulher naquela época era posta em desvantagem ao homem tendo que lhe obedecer sempre, sob as ameaças dos julgamentos da sociedade, da Igreja e castigos do pai ou esposo.
Era uma moça extremamente dócil, inclinada à caridade, à virtude e oração. Gostava de ajudar as religiosas. Obedecendo a vontade do pai, acabou por se apaixonar por um homem, Paulo, que conforme os costumes da época tinha incorporado o arquétipo do "macho alfa", do guerreiro, da força e do machismo. Mas existia entre eles amor. A paixão era verdadeira e mútua: Consolidou-se assim o matrimônio feliz de ambos. Desta bonita relação nasceram dois filhos gêmeos do sexo masculino que herdaram todo o espírito de "machão" do pai.
Até aqui tudo bem... a coisa começou a pegar quando por rixas familiares existentes na família do marido se intensificaram fazendo com que Paulo não tivesse outra coisa no coração senão o desejo de vingança e ódio. Mostrara então à esposa seu temperamento violento legando-lhe agressões de todo tipo. Rita sofria com isso tudo, pois era mulher totalmente educada na boa doutrina evangélica que pregava a paz, o perdão e o amor. Temia que a alma de seu marido se perdesse ao se consumir de tanto ódio. Rita então iniciou uma cruzada de oração pela situação. Pouco antes de se converter, Paulo foi encontrado morto à beira do caminho num ato partido da outra família envolvida nas intrigas. Os dois filhos de Rita em plena a infância juraram a "vendeta" em honra do nome do pai. Rita, sofrendo a ausência do marido na situação de viuvez com duas crianças que queriam aprender a lutar para matar pessoas sofria ainda mais.
Na oração sincera a Deus que sempre praticava, desejosa de agradá-Lo e num ato de amor aos filhos pedira a Deus que lhe levasse os filhos mas que não os deixasse executar a vingança. Aparentemente (e com os olhos de hoje) julgaríamos Rita por não amar aos filhos. Mas a atitude dela foi um ato de amor. A vida do outro é sagrada e homem nenhum tem direito de tirá-la. Surgiu então uma misteriosa doença que ceifou a vida de seus dois filhos. Imaginem a dor desta perda... Dois filhos de uma única vez... Com a dor recente da perca do marido...
Assim Rita desce ao fundo do poço da existência humana preenchendo este poço com as lágrimas de mãe e esposa que reclama a falta do marido e filhos. Experimenta a condição de viúva numa sociedade onde impera o preconceito e desigualdade. Experimenta este sofrimento, como a noite escura joanina, sentia a ausência de Deus. O Deus que lhe era fonte de alegria e devoção parecia ter lhe virado as costas... Encontrando forças após assimilar a dura situação fora pedir ingresso na ordem de Santo Agostinho e foi recusada. Todas as portas da vida lhe foram fechada...
Mas a vontade do Sagrado sempre prevalece. Ele nos surpreende e atende. Tal como o salmista Rita podia dizer: “Na minha angústia invoquei o Senhor, sim, clamei ao meu Deus; do seu templo ouviu ele a minha voz; o clamor que eu lhe fiz chegou aos seus ouvidos.” (Salmos 18). Pois... Numa noite, em profunda oração e atitude de confiança, ela invocou seus santos de devoção que lhe apareceram e a conduziram por um caminho. No amanhecer foi encontrada no claustro das monjas de Santo Agostinho. As freiras interpretaram o fato como um sinal divino, pois não haveria hipótese alguma de Rita ter adentrado no monastério de altos muros trancados por rigorosíssima fechadura. Consentiram então a permanência de Rita no lugar.
No monastério ela levava uma vida de rigorosa oração e duras penitências. Ficava horas ajoelhada em oração com cilícios mais do que apertados na cintura chegando a desmaiar várias vezes. Se flagelava como um gesto de desprezo ao corpo em detrimento do espírito vigilante e fortificado.
Foi lhe dada uma vara de videira já seca para ser plantada. Mesmo com o consentimento das partes que a vara estava sem vida, Rita plantou em nome do voto de obediência. Milagrosamente esta vara brotou e permanece até hoje no Monastério onde viveu.

Rita de Cássia sentia a saudade do Sagrado que conhecera de forma bela na juventude e que se manifestara também na vida de família que tivera. Queria se unir a Ele o tempo todo. Devotada à paixão de Cristo, o Esposo Celestial, quis assimilá-la à seu martírio. Foi quando em uma ocasião de oração ante ao crucifixo, num momento de êxtase, pendeu-lhe um espinho da coroa de Cristo e lhe chagou a fronte causando-lhe uma terrível ferida. Com o tempo veio-lhe a doença que perdurou até o fim de sua vida. E ainda assim era paciente e fiel às praticas cristãs da oração e sacrifício. Pouco antes de morrer, em plena a neve que caía rigorosamente em Cássia, pedira a uma parenta que lhe trouxesse uma rosa que brotara perto de sua casa. Mesmo sem muita fé, a parenta foi, e para a surpresa de todos trouxe a rosa que seria impossível nascer sobre a neve. Rita deixa este mundo em 1457.

Assim consolida-se sua vida.
O impossível acontece quando não temos mais forças, mas ainda fumega uma chama interior no intimo da gente. O impossível acontece nos momentos de extremo sofrimento, quando a esperança está perdida e apenas ao Céu se pode recorrer. Assim Rita do Impossível é a mulher que faz a gente encontrar esperança onde não há mais solução. É a mulher da cruz que consegue transcender o sofrimento galgando a ressurreição com o Cristo. É a mulher que experimenta Deus e se torna melancólica sem perder o espírito de sentinela, aguardando a hora da chegada do Noivo. Sua vida prova que em meio ao gélido deste mundo é possível desafiar as leis postas e surgir como Rosa exalando perfume e beleza. Tornando possível o que era impossível.

Por estas e outras invoquemos Santa Rita!
Thiago Felipe 



sábado, 9 de maio de 2015

PENSAR O OUTRO À PARTIR DE MIM


Se atrasas, eles param;
Se hesitas, eles recuam;
Se te arrastas, eles sucumbem;
Se desanimas, eles desmaiam;
Se te assentas, eles se deitam;
Se te irritas, eles explodem;
Se criticas, eles condenam;
Se te queixas,eles se revoltam;
Mas,
Se tu rezas (oras), eles se santificam;
Se prestas serviços, eles se enriquecem;
Se te sacrificas, eles se robustecem;
Se tu sorris, eles se alegram;
Se choras com eles, eles se consolam;
Se tens paciência, eles se acalmam;
Se tu os amas, eles revivem;
Se cooperas com Deus,Tu salvas o mundo!
(Autor desconhecido)


(***Imagem retirada da internet)

PADRE EZEQUIEL RAMIN

“Quero dizer só uma coisa, uma coisa especial para aqueles que tem sensibilidade para as coisas bonitas. Tenham um sonho. Tenham um sonho bonito. Procurem somente um sonho. Um sonho para a vida toda. Uma vida que sonha é alegre. Uma vida que procura seu sonho renova-se dia após dia. Seja um sonho que procure alegrar Não somente todas as pessoas, mas também seus descendentes. É bonito sonhar de tornar feliz a humanidade toda. Não é impossível…”

* Ezequiel Ramin





* Religioso assassinado em 1985 por defender os diretos da terra aos lavradores no norte do Brasil.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

SÃO JORGE E OGUM SOBRE A ÉGIDE DO SIMBÓLICO

São Jorge é o símbolo do Sagrado que luta ao lado de seu povo. É o mártir que sustenta a Fé e guerreia contra o mal triunfando com o Bem sobre ele. Na Bahia e no Rio de Janeiro sua figura está associada bem além do homem da Capadócia que foi mártir nos primeiros séculos da era comum. Nele são identificados os orixás africanos. Na Bahia é ligado a Oxóssi e no Rio de Janeiro com Ogum no que usamos chamar de sincretismo religioso. Todo mundo sabe (e sabe bem!) que Jorge não é orixá, e nem orixá é Jorge cristão. O que está em jogo aqui é a força do Simbólico que ultrapassa toda racionalidade ou lógica tal como as conhecemos. Na figura de Jorge e dos orixás em questão estão implícitos o arquétipo do guerreiro e da força que podemos reconhecer facilmente em ambos. O Guerreiro é quem guarda, protege e livra do mal. É o aliado na luta cotidiana sempre a superar a maldade existente no caminho. Pois é este o aspecto pelo qual é dado a entender o sincretismo entre deus africano e santo católico. No mais as épocas distintas, a raça, a crença e outras peculiaridades distinguem o guerreiro cristão ou orixá entre si e de qualquer outra personalidade sagrada. De todo modo, hoje, para entender "Jorge" e "Ogum" ou "Oxossi" nesta identificação, vale lembrar duas coisas: o sincretismo necessário dado a intolerância religiosa das épocas passadas (e atualmente também) e a força do simbólico capaz de unificar tudo isso em prol de uma cultura de tolerância e paz.
Particularmente, a coisa é diferente e legítima por direito: No cristianismo Jorge terá seu oficio solene com toda reverência digna dos santos mártires e Ogum/Oxossi terá sua festa com toda dança e comida com a presença da própria divindade no lugar onde for chamado festivamente (Umbanda ou Candomblé).
Salve Jorge! Guerreiro da paz! Amigo na luta contra o mal!Ajudai-nos a vencer as perseguições da vida, auxiliai os cristãos perseguidos no Oriente! Rogai por todos nós a Deus Uno.
Salve Ogum e Oxossi forças da natureza a proteger os filhos e filhas dos povos de terreiro! Força suprema que irradia a coragem e dá força para vencer os dragões diários! Okê arô! Ogunhê!
Amém! Axé!



Thiago Felipe 

sábado, 21 de março de 2015

A SEMANA DAS DORES E AS DORES DA SEMANA

"O vos omnes qui transitis per viam, attendite et videte: 
Si est dolor similis sicut dolor meus."
 



Prosseguindo ainda no tempo cristão da quaresma adentramos na semana das dores onde se rememora a dores sentidas pela Virgem Maria relacionando-as com acontecimentos da historia salvífica do Filho Dela. As dores de Maria atestam no entanto a humanidade e sentimento de uma mãe que também goza de alegrias em vida e gozará ainda no pós-vida. As sete dores sentidas, começam com a profecia do velho Simeão em que uma espada de dor lhe transpassará a alma. É como se Maria sentisse aqui uma profunda angustia existencial... que lhe gera dor.



Em seguida lhe é de muito sofrer a fuga para o Egito. Deixar sua pátria e se adentrar numa outra cultura é algo que provoca muito sofrer. Somente quem já passou por isso saberá entender esta dor de Nossa Senhora. Os escravos africanos saindo de sua terra natal para o Brasil chegavam a morrer de "banzo" , ou seja, saudades atrelada a um sentimento de estranhamento da realidade que gerava uma não adaptação nestas terras estrangeiras. Quem vive no exterior por mais que "tenha se dado bem na vida" chora internamente por  estar longe do lugar onde seu umbigo foi enterrado.



A terceira dor de Maria se deu com a perda do menino no templo. Quem tem criança, filho ou alguém que ama muito, sabe que não existe coisa que mais angustia do que a falta de saber como estão estes que por um momento, dias ou anos se perdem longe de nós. Maria experienciou isso por pouco tempo, mas com profunda angústia e dor. Imaginem a mãe que "perdeu" o filho durante as ditaduras como a do Brasil e da Argentina. Não sabem com certeza se morreram ou não fazem a mínima ideia de onde estes estão. Algumas se consolam assentindo a morte do ente querido. Outras nutrem uma angústia mista com indignação e esperança que maltrata perpetuamente seu coração. No seio da America Latina existem várias mães latinas que ainda hoje clamam por seus filhos perdidos. Em todo o continente existe a voz de uma mãe que ainda não foi atendida. Uma voz de dor, às vezes rouca. Mas incessante.



A quarta dor é o encontro com Jesus no caminho do calvário. A mãe que encontra seu filho em situação de dor. As mais diversas marias sofrem por encontrar seus filhos em situação de dor. Mães que encontram filhos na cadeia, mães que encontram filhos em escolas precárias, sem saúde, no tráfico e em qualquer outra situação em que a vida do filho é posta próxima à situação de morte ou dor. Mãe não quer ver filho sofrer e sofre por vê-lhe sofrer. 



A aumentar todo este sofrimento está toda a incapacidade física gerada por fatores externos que impossibilitam a mãe de agir. É  portanto a dor gerada pela incapacidade. E por isso fere profundamente e faz sangrar o coração. Esta é quinta dor de Maria: estar aos pés do calvário. São aquelas situações de dor em que não se pode fazer nada além de se estar presente, porém imóvel. Talvez esta seja uma das piores dores de uma mãe: a incapacidade. Se pudessem, várias mães e tambem Maria, se ofereceriam como vitima no lugar do filho, pois mãe tem coragem e amor para isso. Mesmo assim com toda incapacidade, imobilidade e falta de esperanças aos pés desta "cruz" stabat mater...dolorosa.



A sexta dor é a consumação do ato da morte do Filho. Quando lhe é atirado o aguilhão que lhe tira a vida e as chances de voltar a viver. É a dor da morte consumada. A maior dor que uma mãe pode ter. Esta é a dor não só do hoje, não apenas nesta semana, mas que em todas as semanas milhares de mães enfrentam. É a dor de 12 mães que tiveram seus filhos mortos numa chacina em um bairro de classe baixa. É a dor daquela que vê o filho morto na fila de espera dos hospitais em busca de uma oportunidade para uma cirurgia. É a dor de ver o filho morto por extremistas. É a dor de perder para sempre o filho. Porém, não é simplesmente a dor de perder o filho. Mas, de perder o filho numa situação de extrema violência. Onde a maldade humana comanda o ato e é carrasco da consumação de sua prole. 



Por fim, a sétima dor é o enterro do filho. É a dor de pôr no seio da terra aquele que saiu de seu seio. É o momento onde se irrompem as lembranças desde a gestação, crescimento e o sofrimento presente. É a dor do peito que já muito soluçara e do vazio que se instaura no ser de uma mãe. É a dor que se prolonga até o ultimo dia de existência daquela Mãe...  Portanto, são sete as dores de Maria. Não que ela tivesse só estas. O 7 é o numero que abrange o incontável por isso é simbólico dizer de "Sete dores de Maria". Mas estas sete, sem dúvida alguma, foram as maiores, pois, lhe puseram na situação limítrofe da existência humana.  São sete os dias e as dores da semana. Todo o dia alguém sofre e incontáveis são os sofrimentos. Todo dia várias marias sofrem e perdem seu sono por causa de seus filhos e filhas. Ser humano é sofrer, chorar, se angustiar... Maria teve sete dores sim. Mas também teve sete alegrias. A maior delas acontecerá em breve, onde toda a vida se restaurará e imperará de forma plena. Esta alegria virá irradiando de esperança e vida todo o ser de quem sofreu. E aí poderemos dizer a esta mulher forte que foi Maria: Regina caeli, laetare, Alleluia!!!  




                                                                                                                             
 Thiago Felipe L. Mata




***Fotos retiradas da Internet