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quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Seguindo a Estrela de Belém pelo Sertão: o Reisado de Feira de Santana

 Para os “de Casa” e os “ de fora”
“Em nome dos Santos Reis e do Santo Filho de Maria!!!”



A cultura nordestina sempre surpreende com um espetáculo de sons , cores e sentidos. Na posição de “abiã”[1] da cultura baiana, disposto a iniciar-me nos mistérios sagrados do povo, quero dizer de um festejo de Reis ocorrido no interior da Bahia na cidade de Feira de Santana.
A tradição da festa de Reis é essencialmente católica e mui antiga. A devoção aos Santos Reis surge nos primórdios da Cristandade abrilhantando ainda mais os festejos natalinos onde o “Sol”[2] que nasce do alto nos visitou graças a misericórdia de nosso Deus conforme a oração de Zacarias. Segundo o Evangelho de Mateus e tradição da Igreja, três reis guiados por uma estrela e por sabedoria divina chegaram à casa do Menino Jesus oferecendo-lhe presentes de ouro, mirra e incenso. Segundo a tradição possuíam o nome de Gaspar, Melchior e Baltazar sendo este último de tez escura.  
A liturgia da Igreja marca o dia seis de Janeiro para os festejos dos Santos Reis. No Brasil geralmente é atribuído o domingo seqüente a esta data para a celebração dos Reis Magos nas Igrejas com titulo de festa da Epifania do Senhor. Para comemorar a data acontecem além das celebrações solenes pela Igreja, as folias e os reisados do povo. Em Minas Gerais, geralmente se chama Folia de Santos Reis na Bahia há as variações de Terno, Terno de Reis e Reisado. Estas manifestações se dão em âmbito popular sob influência africana, atestada, sobretudo pelas danças e instrumentos musicais utilizados. A linguagem simples usada nas cantigas e orações caracteriza a identidade do reisado como algo realmente popular, de gente humilde e de muita fé. Possivelmente foram os escravos que engendraram estes festejos populares tal como podem ser vistos até hoje. Toda folia, música, dança e cores é empregado no festejo sempre sinalizando a alegria de ter entre nós o “Emanuel”.
O grupo do reisado se reúne num ponto estratégico, e, peregrina por algumas casas da região com seus cânticos e danças típicos fazendo memória à visita dos Santos Reis. São realizadas cantigas para que a dona ou dono da casa abra a porta para acolher o reisado. Aberto o portão da casa forma-se um delicioso clima de descontração com muita alegria, música e dança. Há ali alguma merenda para os visitantes, pois em geral nos festejos de origem africana se alimenta o espírito e o corpo. O alimento é que dá a energia para a dança, cria o ambiente de confraternização e partilha. Na saída é solicitado que se pague aos Santos Reis. Pagar o “Santo Reis” é a maneira efetiva de contribuir para o festejo, demonstração de contentamento e gratidão. Aqui são respeitadas as condições de cada família e cada um dá aquilo que pode.

Como os Reis Magos reconheceram em Belém o Sagrado manifestado na humanidade de uma criança com seus santos pais, o reisado de alguma forma reconhece e adora o Sagrado em cada família que visita. O reisado re-visita e exalta a vida em cada família que entra. Por isso é preciso haver festa e tudo que denote vida como cores alegres, sons e comidas. Cada participante faz uso de seu direito cristão de “Rei e Sacerdote” [3] para visitar e reconhecer, tal como os Santos Reis, o Sagrado revelado no âmago de cada residência que os acolhe. Este Sagrado é o Outro que no momento do reisado é destituído de sua secularidade para tornar-se divinamente participante da Epifania do Menino Deus. A Dona da casa assim como Nossa Senhora é o elemento feminino que zela pelo conforto dos visitantes com singular afeição. O Pai ou Irmão mais velho é por analogia São José que vigilantemente zela pelo lugar e ajuda no serviço a quem chega. Os demais da casa  são convivas do Menino Deus igualmente divinos. Assim é recordado o acontecimento da visita dos Reis à Criança de Belém sob o signo da alegria e da esperança, pois “um menino nasceu, o mundo tornou a começar!” [4]. Acredito ser esta a mensagem do reisado: reconhecer e visitar o Sagrado no Humano. Tudo isso feito com muita alegria, esperança, fé e confiança na Boa Nova trazida pelo Menino.
Que esta tradição perdure por muitos anos nas ruas do Bairro dos Eucaliptos em Feira de Santana. Pois é aí que reside a força de um povo.


Viva meus Santos Reis!!!Viva meus Santos Reis!!!
Viva meus Santos Reis!!!
 Coroado! Viva meus Santos Reis!!!




Thiago Felipe L. Mata



[1] Termo iorubá para dizer de aprendiz.
[2] Cf. Lc1, 67-79
[3] Cf. Ap 1,6
[4] Guimarães Rosa – Grande Sertão Veredas

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