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segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Filme Dom Quixote (1957), de Grigori Kozintsev





Dom Quixote (1957), de Grigori Kozintsev , retrata a célebre história homônima escrita por  Miguel Cervantes publicada em 1605. Trata-se de um romance que narra a história de um fidalgo que após ler inúmeros livros de cavalaria é acometido de um surto de loucura onde assume o papel de um cavaleiro tipicamente medieval não existente mais em seu tempo.
Dom Quixote então, ao incorporar os moldes e costumes dos cavaleiros medievais veste a armadura que pertenceu ao seu avô e parte pela Espanha a ajudar os fracos e oprimidos sempre a busca de Dulcinéia sua donzela querida. Em sua jornada toma Sancho Pança como fiel escudeiro e amigo. Saem juntos cometendo diversos equívocos pensando sempre ajudar os fracos e oprimidos. Assim libertam criminosos pensando que estão libertando escravos e acabam atrapalhando ao pensar que estão a ajudar as pessoas.
Em um dado momento são enganados por uma nobre cortesã e entra em uma dissimulação sem saber. É reportado a um reino onde é enganado o tempo todo. Quando a farsa é desfeita lhe é revelado que: “ É uma brincadeira como tudo neste mundo.Ser virtuoso é ridículo, o amor e a fidelidade são puras invenções da imaginação fértil.”
Saindo dali se encontra com Sancho e se deparam numa região de moinhos onde travam a famosa batalha descrita na obra de Cervantes se arrebentando todo ao chão. Em seguidas, Dom Quixote é vencido por um servo seu disfarçado de cavaleiro que o obriga a voltar para a casa.
O Filme é repleto de simbolismos que muito importam nos estudos da melancolia. A figura esguia de Dom Quixote é o arquétipo do melancólico por excelência. De forma pálida e seca são atestadas nele as características físicas influenciadas por Saturno/Chronos na pessoa que sofre a predominância da bile negra segundo os gregos antigos. A armadura de Dom Quixote representa o saudosismo de um passado... uma saudade de algo que conheceu. O Escudo traz um coração representando o amor (Eros) e o desejo ardente que lhe move: a procura pelo Absoluto representado na amada Dulcineia. A lança pode significar o aguilhão do Absoluto que nos fere e nos impregna com suas marcas, tal como o dardo que ferira o coração da mística Teresa de Avila inflamando-a toda em desejo por este. Pode ainda cumprir a função de “axis mundis” descrita por Mircea Eliade apontando simbolicamente a direção a ser seguida: o alto como simbologia da morada do sagrado.
A figura de Quixote como andarilho e louco faz uma correlação com a figura do melancólico na renascença: um andarilho acompanhado por um cão fiel que pode ser entendido como Sancho por analogia. Não coincidentemente recebe o epigrafo de “cavaleiro da triste figura” associando a tristeza e apatia como características dos melancólicos. O filme se passa num cenário de deserto. O deserto é por excelência o lugar do melancólico, pois remete á existência humana nua e crua.  Deserto é também lugar simbólico das hierofanias pois há aqui o simbolismo do “não lugar” morada predileta do Sagrado.


Em suas batalhas, seu pior inimigo é Fresno visto como o moinho de ventos. O moinho é tempo. Tempo é o grande adversário do melancólico na sua jornada e espera pelo Absoluto. Ao atacar o moinho, Quixote gira com as hélices deixando transparecer quão forte é o tempo sobre a existência humana não alcançando êxito na sua batalha.
A corte representa toda a sociedade moderna desconstituída de valores. É a sociedade que relativiza e cai no vazio provocado pela “morte” de Deus. É contraposta com a família de Quixote que permanece junto a natureza e aos costumes tradicionais, que mesmo ante a loucura do amo respeita o Sagrado do outro.



Dulcineia por sua vez, se manifesta no final do filme na tentativa de reanimar o cavaleiro da triste figura. Ela pode ser entendida como o sagrado que se desvela ao místico/melancólico usando a natureza (vento que entra pela janela) alimentando ainda que por curto tempo seus anseios sendo capaz de preencher todo o seu vazio. Não satisfeito, após esta cena é mostrado Dom Quixote novamente à busca pelo deserto tal como se concebe o melancólico: alguém que foi marcado pelo Sagrado e que não descansará enquanto não o encontrar em plenitude.

                                                                                                                        Thiago da Mata



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