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Este Blog tem por finalidade estabelecer um contato com grandes amigos e pessoas importantes para mim. Nele Postarei um pouco de mim, do meu pensar, dos momentos que ficaram marcados em minha vida e também um pouco do que gosto,textos que acho interessante, paisagens! Encontrei aqui, neste espaço, uma maneira bem legal pra fazer isto e conto com ajuda de vocês para construí-lo. Um Grande Abraço a todos!

sábado, 8 de março de 2014

A LAMA DE NANÃ E O UNIVERSO DAS MULHERES: Berçário de Toda Vida.



Há algum tempo convidado pela Professora Uilma participei de um projeto da Faculdade de Educação da UFBA chamado “Maré de Saberes”. O Projeto era focado no convívio com as marisqueiras que são trabalhadoras  nos manguezais de algumas cidades do Recôncavo baiano  como Salinas da Margarida, São Sebastião do Passé, Acupe e Bom Jesus dos Passos. O Professor Lourenço, Doutor em Filosofia sempre me dizia que, eu, sendo mineiro teria que ser muito grato a todo conhecimento do simbólico e da cultura local que me eram repassados por aqui na Bahia. Sendo assim quero render uma singela homenagem às mulheres desta terra e à Mãe Terra que aqui se faz presente.
Com enorme faixa litorânea, o estado da Bahia possui também uma considerável faixa de manguezais. Enquanto os homens trabalham em outros ofícios como a pesca em alto mar, as mulheres se dedicam às tarefas do mangue fazendo do siri, caranguejo e mariscos fontes de seu sustento. Na maré baixa elas saem à procura de mariscos como o mapé, sururu, chumbinho e sarnambi. Ficam horas reclinadas sob o calor do sol cavando na areia até encherem a cesta ou o balde. Depois, em suas casas, vão para um fogão improvisado de blocos ou tijolos, que alimentados com a lenha nativa ou de caixotes de feira sustentam a lata com água à ser fervida com os mariscos até abrirem as cascas. O marisco é retirado de dentro das conchas e armazenado em geral em embalagens contendo 1kg  que são vendidos a um preço nem sempre justo a todo trabalho tido pelas mulheres nas feiras da grande cidade.
Na Bahia de Todos os Santos e Orixás a senhora Nanã, sincretizada como Santa Ana é a divindade dos manguezais e das águas lamacentas. É a orixá Ayabá mais velha. Ela conhece, portanto, os segredos da formação do homem, pois dos domínios dela (terra) ele lhe fora plasmado. Nanã é a representação africana-brasileira de Géia ou Gaia, a Mãe Terra. Ela conhece os segredos da existência e somente ela detém os mistérios de sua gênese e do seu regresso ao seu seio. Nanã-Terra é capaz de fornecer a energia que desperta a vida na semente garantindo assim a manutenção da vida dos animais por meio do brotar dos vegetais. Curiosamente, em outras culturas, como a hebraica, a terra é participante ativa na criação do homem. O livro do Gênesis conta que Yahweh formou o homem e a mulher da terra. Da terra foram criados e à terra retornariam. O elemento Terra traz consigo a essência da vida e da morte. É o leito que desperta o homem, pois o homem cresce e sobrevive graças ao sustento dos alimentos brotados dela. Mas, é o leito onde retornará sob alguns palmos de terra como se vê na cultura funerária ocidental cristã. Geia a grande titã grega dá origem sozinha à vários elementos e deuses, pois ela é por excelência fecundidade, não necessitando em primeiro instante da essência masculina para procriar. Assim também a velha Nanã, recusa a participação masculina nos seus axés declarando-se independente de Ogum (representação masculina) para se alimentar e sobreviver.  Por isso, nos cultos à Nanã não se usa ferro ( elemento de Ogum) fazendo-se segredo de como o animal a ser sacrificado é morto. Não se usa facas, nem qualquer metal para vitimá-lo. Os homens não são escolhidos por Nana para sua manifestação. E todos, homens e mulheres, a temem e lhe respeitam profundamente, por causa de sua força e dos segredos da vida e da morte que guarda consigo.



É da lama de Nanã que as marisqueiras tiram a vida. Na lama de Nanã, isto é, no mangue, homem não entra. Os manguezais são domínios das mulheres. Na dança ritualística, Nanã se mantém encurvada, posição que diz da sua muita idade. Encurvadas também estão as marisqueiras, na lama ou na praia, à procura dos mariscos que lhes trarão o sustento de casa.
Embora, o mangue, se torne às vezes um lugar triste e sombrio sem ele certamente não existiria a vida marinha. Os manguezais são responsáveis por grande parte da manutenção das espécies do mar e sem eles muitos peixes e micro-organismos não existiriam. O mangue é a fonte de vida do mar.
A vida só existe graças a toda esta essência de feminilidade presente na natureza. Não existe vida sem a mulher. Só a mulher contém o segredo capaz de gerar a vida. Sendo rejeitada por Oxalá (essência criadora masculina) e por Ogum (tékné) Nanã consegue se afirmar o tempo inteiro sob o Orun (céu)e o Aiyê ( terra) pois ela possui algo que os demais não possui: a fecundidade. Vitimada por preconceitos sociais, privada de direitos como educação e saúde, a mulher marisqueira consegue extrair da natureza os mariscos com uma delicadeza e habilidade que muitos homens não saberiam usar... e garantem a sobrevivência de suas famílias.
A mulher e mãe terra são detentoras da vida. Conhecem e detém os segredos da geração. Sem a terra/mulher não existiriam homens. Sem as marisqueiras não existiriam os saborosos pratos da nossa culinária baiana tão querida à nossa gente.
Bendita seja a mulher! Detentora da vida! Lhe é inegável a sua garra, o seu trabalho, a sua ternura, afeto, amor e maternidade. Bendita seja a mulher marisqueira com sua coragem, sabedoria e habilidade que, como Maria Felipe, heroína de nossa independência trazem consigo o sonho da liberdade.
Feliz dia das mulheres a todas as mulheres que carregam o dom da vida e que completam as nossas vidas!

8 de Março, dia das mulheres, sábado, dia dedicado a Nanã.  
Thiago Felipe 

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